Habituei-me, desde criança, às celebrações das Festas de São Pedro, nas Lajes do Pico.
Na sua capela – a primeira igreja da Ilha – a imagem do primeiro Papa permanecia, durante todo o ano, esquecida dos fiéis, juntamente com a pequena imagem de São Paulo que também saía em procissão, no dia 29 de Junho.
Desconheço desde quando a festa de São Pedro nas Lajes, é um império, como os do Espírito Santo, em que os irmãos dão rosquilhas para distribuir pelo público, no fim de um animado arraial por banda de música.
Com o decorrer dos anos, apercebi-me, porém, que outras celebrações festivas ao Primeiro chefe da Igreja manifestam-se de outra forma, por influência continental das festas dos Santos Populares.
Felizmente que o São Pedro da Ribeira Seca da Ribeira Grande marca a diferença e resiste às modas. Para tal, muito contribuiu a divulgação e projeção feitas pela televisão regional.
Desde os anos oitenta, a RTP-Açores procurou explicações para a tradição das promessas das alâmpadas ou alampas – enormes cachos onde se entroncam muitas flores e frutos da época que enfeitam a Igreja da Ribeira Seca e são, depois, oferecidos. O saudoso Daniel de Sá, a pedido da comissão de festas, efetuou um estudo interessante sobre a origem da palavra e da tradição que constitui um contributo importante, a juntar a outras antigas investigações etnográficas.
Das Cavalhadas de São Pedro, manifestação que ainda hoje se realiza em terras brasileiras (desconhece-se se por influência da emigração açoriana), as dúvidas sobre as suas raízes, subsistem, apesar dos estudos efetuados.
Quando terá começado este ritual? Que significado têm as sete voltas à Igreja: simbolizam os sete dons do Espírito Santo? Que relação existe entre a festa de são Pedro e o culto ao Divino? Como e quando se iniciou a tradição de cavaleiros acompanharem o cortejo para cumprimento de promessas? Como é que a hierarquia eclesiástica tem acompanhado este ritual: promovendo-o como piedade popular, ou ignorando-o por considerá-lo uma crendice? Nos últimos anos, tem-se assistido a um aumento de jovens cavaleiros. Por convicção religiosa ou por exibicionismo?
Todas estas questões e muitas outras, mereciam ser investigadas e esclarecidas para não se aprofundar o conhecimento desta manifestação popular de grande significado para as populações da Ribeira Grande.
No ressurgimento e afirmação recente das Cavalhadas é justo referir o trabalho devotado dos irmãos Maré. Eles imprimiram dignidade a todo o cerimonial e um ambiente de religioso respeito que permite escutar a longa e interessante mensagem dirigida ao Orago, em tudo semelhante ao teatro popular.
Já muito foi dito e escrito sobre as Cavalhadas de São Pedro. Julgo, no entanto, que esta celebração da religiosidade popular envolve “segredos” que importa descobrir para melhor se afirmar e preservar a nossa identidade. De contrário, corre-se o risco de banalizar a tradição e isso conduz, fatalmente, à sua decadência e substituição por outras manifestações, eventualmente mais modernas. É contra esse risco que devemos estar atentos.
Agora que começam as festas de verão, não banalizemos, nem descontextualizemos as celebrações e tradições religiosas e populares, seja a que pretexto for.
As Cavalhadas de São Pedro da Ribeira Grande são um bom exemplo do que deve ser feito.
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